Gotas de chuva batem em minha janela me lembrando de tempos distantes que nunca vivi, uma estranha sensação de deja vu me consome. O som é relaxante, não quero levantar, mas eu preciso.Ainda é cedo demais, o céu está tão perfeito quanto poderia estar em um nascer de sol. A melancolia toma conta de mim.
Aquele momento deveria me lembrar de algo?
Por alguma razão desconhecida, me sinto mal por não saber o que aquilo deveria significar. Acho que deveria estar feliz, na verdade, estou. Porém a tristeza e o vazio são maiores, fazendo com que a felicidade fosse quase que anulada, mas ela estava ali, me lembrando de que também houveram bons momentos.
Desisto de me perguntar o porquê daqueles sentimentos, só me resta aprecia-los, pois mesmo que alguns não fossem exatamente agradáveis, era ainda melhor do que a indiferença.
Sentir aquilo significava que algo realmente tinha acontecido, ou talvez, só significasse que eu estava delirando.
Será que eu estava louca?
Depois de alguns minutos percebi que a resposta não importava, afinal, o que pode ser chamado de real nessa vida? Aquilo que vemos e sentimos pode ser apenas uma ilusão, mas mesmo assim seria verdade, porque nós acreditaríamos que é.
O tempo rapidamente se passou, o belo do amanhecer também. Porém a vontade de continuar ali, olhando para o céu, divagando sobre coisas que eu desconhecia, permaneceu.
Não queria sair do meu quarto, meu refugio. Para que eu o faria? Para encontrar pessoas que não se importa realmente comigo? Para sorrir falsamente, fingindo que esta tudo bem, quando nem sei o que há de errado?
Não, obrigada.
Liguei para algum e dei qualquer desculpa que fizesse que ninguém me perturbasse pelo resto do dia. Deitei novamente e fiquei encarando o teto. Escutando o som do silencio.
Ah, como era bom ficar um pouco sozinha. Sabe, as pessoas subestimam muito a solidão, assim como o silencio. Era tão relaxante que quase não acreditei.
Talvez eu ainda estivesse dormindo, daqui a pouco eu acordaria, e tudo voltaria ao normal. Teria que me levantar e fazer coisas que eu realmente não estava disposta a fazer.
Suspirei pesadamente com a esperança de que, se eu estivesse mesmo dormindo, continuasse assim pelo resto da eternidade.
Morrer não deveria ser assim tão ruim. Com certeza é pior para quem fica, mas quem iria realmente sofrer com minha partida? Ah, com certeza muita gente iria sentir falta da minha grande estupides, que fazia com que eu ajudasse tudo e todos.
Sim, aqueles que estavam acostumados a sempre se safarem de alguma coisa com minha ajuda realmente iriam sofrer. Iriam, pela primeira vez na vida, ter que fazer alguma coisa sozinhos e por conta própria, pelo menos até acharem outro idiota que sempre pensasse nos outros antes de si mesmo, exatamente como eu fazia.
Me senti mal por estar pensando isso, tantas pessoas sofrendo, algumas na miséria ou doente, implorando por mais tempo de vida, e eu aqui, pensando em como morrer poderia ser bom.
Imaginei como ele reagiria se soubesse o que eu se passava em minha cabeça agora, com certeza iria brigar comigo, dizer que não era sequer para eu brincar com uma coisa dessas. Também daria ênfase no fato de pensar nos outros, não era estupides, mas sim altruísmo.
Interrompi meu pensamento. Afinal, quem seria ele?
Vários momentos me vieram em mente, lugares que me eram conhecidos, vozes que me traziam felicidade, duas risadas: a minha e mais uma, rouca e incrivelmente reconfortante.
Aquilo tudo me era tão familiar, como eu não conseguia lembrar o que eram?
Talvez eu estivesse mesmo dormindo, talvez eu estivesse morta, talvez eu apenas tivesse realmente enlouquecido.
No momento eu não me importava, não queria me importar, depois eu pensaria nisso, a única coisa que eu queria era buscar por mais memorias de tempos tão incrivelmente felizes, porém tão estranhamente esquecidos.
- Nathalia Andrade-